DOIS DEDOS DE PROSA: UM EMOCIONANTE ENCONTRO CULTURAL PROMOVIDO PELA UFOB

Roberto de Sena
Mural do Oeste

Fui nesta quinta-feira, 25, no Trapiche ao Café Filosófico da UFOB e fiquei profundamente emocionado ao constatar o surgimento de um olhar diferente e, sobretudo, de uma nova perspectiva para à cultura de Barreiras. O evento intitulado DOIS DEDOS DE PROSA teve como tema central à palestra A MULHER NEGRA DO BRASIL, UM CANTO DE REVOLTA PELOS ARES, com Meire Reis (Salvador),  Shirley Pimentel (IFBA) e a yalorixá Rose Meire (Barreiras). A conversa fluiu, intensa e bela como o Rio Grande passando ao lado. 

Uma noite para não se esquecer tal a sua grandeza para a nossa cidade.

Como sempre acontece nestes encontros promovidos pela UFOB, a arte predominou, (música, cinema, dança e poesia). Momentos únicos de muita beleza, pluralidade, diversidade com as várias formas de expressão humana. 

Uma lindeza.

Ainda sob o impacto que a emoção do que vi me provocou, contenho-me para não cair na tentação do elogio fácil, mas arrisco a dizer que a UFOB e todos os parceiros, estão revelando uma nova Barreiras, muito diferente daquela que a gente se acostumou a enfrentar nos últimos tempos. Uma cidade sem opção cultural, sem incentivo à arte, num ambiente de medo e horror onde à barbárie do som automotivo, da violência e do desrespeito, impera e nos tira o sossego

Sim. a UFOB e seus parceiros mostraram que existe antídoto contra a desinformação, contra mistificação e que não é preciso  muito dinheiro (graças a Deus) para oferecer boas alternativas ao povo de nossa cidade.  

Basta ter sensibilidade e coragem para fazer que as coisas acontecem.

O encontro desta quinta-feira foi, para mim, a constatação daquilo que sempre pensei: existe vida inteligente em Barreiras. Ela pulsa e aflora com a beleza dos cajueiros do cerrado oferecendo algo que é muito precioso para a existência humana: o debate de ideias feito de forma respeitosa.

Como disse no início, escrevo ainda sob o impacto da emoção e peço perdão por algum equivoco, por algum erro. Posso cometê-los nesta análise. Mais tenho certeza que não erro ao dizer que este foi um dos mais belos espetáculos que já vi em minha amada cidade. Tudo simples, sem megalomania, com despojamento mas - o que é fundamental - com conteúdo e profundidade.

A UFOB tem muito a contribuir com o renascimento da cultura de Barreiras. É uma instituição que pode dialogar com a gestão municipal e oferecer um horizonte imenso de possibilidades para o nosso povo. Este diálogo da Universidade com a comunidade pode ser o fio condutor de uma nova era de (por assim dizer) riqueza cultural.

Na condição de militante da cultura de Barreiras eu agradeço pelo sopro novo que à UFOB nos proporciona. É este o caminho. Não vou citar nomes mas quero dizer que as pessoas envolvidas neste projeto trouxeram luzes novas de conhecimento e saber para nossa cidade. Vamos beber desta boa água. É por aí o caminho para a construção de uma cidade mais humana, menos violenta e melhor para se viver.

Aplausos.

Finalizo com um poema que escrevi em 1984, que virou música e que tem como tema a mulher negra. As rimas são primárias mas a ideia central ainda funciona. As mulheres negras da palestra de ontem fizeram com que eu me lembrasse deste poema. 

NEGRA

Negra

Teus cabelos tem o cheiro dos Palmares

do teu olhar brotam luares

me levando a lugares

que nunca viajei

Pele da África

Rica do sol das Américas

O teu sorriso

tem a luz das ruas de Angola

Eu fiz esta canção

pra te pedir 

oh flor que fiques

com este olhar de Moçambique

iluminando minha solidão.

Pele da África
Rica do sol das Américas

Negra teus cabelos
tem o cheiro dos Palmares
do teu olhar
brotam luares
me levando a lugares
que nunca viajei